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Rachel Balsalobre, criadora da news RADAR FUNDASP, fala sobre carreira, projetos e futuro

Ex-assessora de comunicação e imprensa da Fundação São Paulo, a profa. Rachel Balsalobre fala sobre sua trajetória ao RADAR FUNDASP NOTÍCIAS, boletim online que criou em 2021 e do qual esteve à frente até 2023. Desde então, a docente vem se dedicando mais a projetos pessoais e está engajada com questões ligadas à Palestina.

Rachel é professora licenciada do curso de Jornalismo da PUC-SP, onde ingressou em 1995, além de psicóloga, com mestrado em Psicologia Social (USP, 1991). A seguir, ela fala sobre sua trajetória, abordando a transição entre a sala de aula e a assessoria de comunicação, o início do trabalho na FUNDASP, a criação do primeiro boletim com notícias e informações da Instituição e das Mantidas e curiosidades sobre o logotipo do periódico. Rachel fala ainda sobre o momento atual da carreira e de seus novos projetos.

 

“Encontrei um universo rico e inimaginável dentro da FUNDASP, e, melhor, pessoas maravilhosas” – Rachel Balsalobre

 

Início na Assessoria de Comunicação da FUNDASP

Era outubro de 2021 e eu tinha acabado de aportar na FUNDASP, com muito entusiasmo e uma mala cheia de planos, de curto, médio e longo prazos. O ambiente era muito acolhedor e estimulante. Eu estava entrando num novo mundo, muito interessante, depois de 26 anos de sala de aula, e ganhei uma perspectiva de observação das coisas com a qual jamais sonhara. Achei que o que era a primeira prioridade era colocar em circulação uma newsletter.  Eu imaginava etapas.

A primeira era uma publicação que circulasse quinzenalmente, voltada apenas para o público interno, FUNDASP e Mantidas. A curadoria das pautas era essencial, e este era um ponto delicado, porque eu não circulava por outros campi além do da Monte Alegre. Mas na própria FUNDASP havia muita coisa acontecendo, de interesse geral. Outra coisa que me desafiava era a abordagem e o texto em si. A geração do jornalismo à qual pertenço tinha esta marca de ser obsessiva com o texto, o que é uma virtude, mas pode ser também um problema, porque nunca está bom o suficiente.

A segunda etapa seria pensar numa forma de tornar esta newsletter algo que pudesse circular em outros órgãos de imprensa, assim como nós recebíamos publicações de outras instituições. E a terceira seria “agregar valor” à publicação: fazer edições especiais, fazer entrevistas interessantes, reportagens especiais etc, e talvez, torná-la semanal. Acho que um pouquinho de tudo foi feito, mas foi apenas o início temeroso deste Radar hoje plenamente consolidado e sob a batuta competente de um mestre.

O nome, RADAR FUNDASP, foi escolhido a seis mãos: lembro-me de fazer uma lista com uns quatro nomes, entre os quais coisas como Expresso FUNDASP, Sintonia FUNDASP, e que tais, e mandar para o Pe. Rodolpho e Dra. Ana Grillo. Eles escolheram RADAR FUNDASP, para a minha satisfação, pois era o meu preferido. E assim saiu o RADAR número 1, e, 1 de dezembro de 2021, com uma importante carta à comunidade, do Pe. Rodolpho, pois havíamos sobrevivido a um primeiro ano inteiro de pandemia e nos sentíamos exaustos e vitoriosos ao mesmo tempo. Precisávamos daquelas palavras de esperança.

Elementos do logo RADAR

Na verdade, a intenção foi muito simples e despretensiosa. Eu não sou uma profissional de design gráfico, nem artista visual, nada disto. Não é inédito que RADAR venha associada a uma anteninha, que pode ser posicionada de várias formas. Para deixar daquele jeito – com o R final de RADAR invertido e uma pequena figura de uma antena entre este R e a letra F, de FUNDASP, contei muito com a ajuda da querida Carol Pinilla, profissional super competente que deixou tudo do jeito imaginado. A Carol foi decisiva em vários momentos.

Trajetória 

Não sei se faz sentido para as pessoas eu responder desta forma, mas eu diria que minha carreira foi basicamente estudar militar coletivamente. Sei que as pessoas tratam com naturalidade a ideia de você ter um projeto profissional pessoal e passar a vida cuidando dele, até “chegar lá”, mas “chegar lá” pode ser uma grande cilada. Desde muito jovem, mesmo eu tendo como origem uma família humilde lá do interior do estado, ou seja, eu tinha que ganhar a vida e sobreviver, nunca passou pela minha cabeça, e nem foi a prática da minha família, ocupar-se só de si, galgar postos, ganhar dinheiro ou ter uma posição de ascendência sobre outros, ter como valor estas coisas que a maioria das pessoas têm como valor. Essa é uma questão de fundo, mas foi decisiva para mim.

O único valor intocável era estudar. O consumismo, que hoje está tão naturalizado na sociedade era algo que, já naquela época, nos repugnava. O caminho inevitável foi me politizar e integrar as fileiras de organizações de esquerda, ora clandestinas, ora legalizadas. No interior destes partidos estudava-se muito e debatia-se muito. O projeto central da vida era construir uma outra sociedade, socialista.

Fiz dois cursos superiores: Psicologia e Jornalismo. O primeiro por conveniência (ganhei uma bolsa integral para este curso), e o segundo por paixão. Com Psicologia, trabalhei pouco, com Jornalismo, trabalhei muito, e em circunstâncias bem diversas. Como aluna, eu ingressei na PUC-SP em 1979. Lembro-me de fazer fundo de greve para as famílias dos metalúrgicos que estavam presos no ABC, inclusive o Lula. Foi na ditadura, antes da Constituição de 88, e greve era proibida.Era ditadura, era proibido fazer greve, e eles fizeram. Ao todo, se  somar, são cerca de 45 anos dentro da PUC-SP, com alguns intervalos quando tive missões em outros lugares.

Neste meio tempo, concluí na USP um Mestrado que havia iniciado na PUC-SP e me tornei professora no curso de Jornalismo em 1995. A PUC-SP foi minha escola, meu lar, meu coração e a docência foi uma entrega completa. Quando as torres gêmeas caíram nos EUA, eu sei exatamente onde eu estava, dentro da Universidade, no antigo prédio do Jornalismo, perto da rampa, conversando com um grupo de alunos, e me lembro deles.

Era uma baita notícia, e saímos correndo atrás dela. Orientei TCCs, na área de livro-reportagem, e estes livros são maravilhosos até hoje. Tínhamos projetos para o curso de Jornalismo. Não era só dar aulas, tudo era com sangue nos olhos. Vivíamos nas periferias. Muitos de nós não construiu uma carreira acadêmica mais regular, cumprindo todas aquelas exigências que conhecemos, simplesmente porque não fazia sentido para nós, não cabiam nas nossas vidas, embora sejam legítimas, são regras que fazem parte da lógica da instituição e de uma certa concepção de ensino etc.

Hoje entendo que a “dissonância”, por assim dizer, que o curso de Jornalismo representou dentro da PUC-SP num determinado período, representou uma espécie de ponto de inflexão na hegemonia da instituição. O “defeito” que foi também virtude. O “defeito” que encantou olhos forasteiros e internos, justamente por não se encaixar. Por destoar. É uma longa e complexa história que não cabe só na minha voz, mas fica o registro. É que não consigo falar de mim sem falar de tudo isto.

Momento atual da carreira e novos projetos

Estou completamente focada nas frentes de denúncia e de combate ao genocídio ao qual Gaza, na Palestina está escandalosamente submetida. Temos um povo hoje que está sendo sistematicamente roubado de suas terras, de suas casas, de sua comida, de sua vida, e sua humanidade. E o mundo não está fazendo o suficiente para brecar essa vergonha.

Gostaria muito de ter ido com a Flotilha Global Sumud, a Flotilha da Liberdade que, como desde 2011, tenta levar ajuda humanitária para Gaza por mar, mas não preenchi as condições físicas indispensáveis.

Mas há muita, muita coisa mesmo a fazer, dentro das minhas limitações físicas e materiais.

Continuo estudando e escrevendo, às vezes escrevo “pra fora”, sob demanda, para este e outros movimentos. Mas, sinceramente, não consigo viver normalmente pensando no que acontece em Gaza, e continua a acontecer.

Enquanto a situação em Gaza continuar, não podemos dizer que ainda temos uma Civilização. Estive em Moscou duas vezes no ano passado, num colóquio de pessoas do mundo acadêmico, de várias partes do mundo, e isso foi uma unanimidade.

Além disto tento me preparar para fazer este rito de passagem que é me desligar da FUNDASP-PUC-SP. Cortar o cordão umbilical, o que venho adiando. Não será fácil. Não sei se sobreviverei a isto! (risos).

Lembrando a frase do poeta português que diz que você sai da sua aldeia, mas sua aldeia não sai de você, pois é: você sai da PUC, mas a PUC não sai de você.